Numa noite dessas

    

     Ele me chamou e eu fui, levantei da minha cama e sem pensar muito vesti a primeira roupa que vi, passei o perfume que ele mais gosta e prendi o cabelo em um rabo de cavalo. Naquele momento eu não queria mais nada, apenas estar ao seu lado. Corri para a porta e lá fiquei aguardando sua chegada, ele já havia me dito que estava à caminho, mas minha ansiedade fazia com que olhasse no relógio a cada minuto. Quando seu carro apontou na esquina de baixo, corri fechar a porta e sair. O carro mal encostou e eu já tinha pulado para dentro. Dei-lhe um beijo simples e rápido, afinal, não sabia como ele estava comigo. No caminho para sua casa, em uma tentativa falha de puxar assunto, trocamos duas ou três frases curtas, mas aquele silêncio não me incomodava, eu estava com ele e isso bastava.
     Chegamos na casa dele apenas para pegar uma bebida e cadeiras, parecia que eu estava perdida naquele momento, sem saber do que falar, onde por as mãos, sentar ou não sentar, mas logo saímos dali. A porta da garagem era pesada e tinha um barulho forte para abrir e fechar, naquele momento fiquei com medo de sermos descobertos, mas não fomos, a não ser por uma vizinha que observava o movimento da rua de sua janela. Guardamos as cadeiras no banco traseiro do carro e tomamos rumo, mesmo sem saber ao certo aonde iriamos.
    Chegamos em um bairro novo da cidade, ainda não haviam casas construídas, apenas ruas e postes de luz. Descemos do carro e posicionamos as cadeiras no meio daquela rua deserta e começamos a conversar sobre coisas aleatórias, depois sobre fatos ocorridos no passado e por último, sobre coisas que fizemos na vida. Eu amo escutá-lo falar sobre seus pensamentos, seu modo de ver e fazer a vida, enquanto ele falava eu o observava, cada detalhe do seu rosto, o som da sua voz um pouco abafada pelo vento frio, eu só queria guardar aqueles detalhes para todo o sempre.
       Já eram quase duas horas da madrugada quando voltamos para a casa dele, o barulho que o portão da garagem fazia me deixava tensa, tive a sensação que alguém poderia acordar e nos pegar no flagra, mas era só mais um dos medos da minha mente.
        Deitamos no sofá e escolhemos um filme na TV, puxamos uma coberta e nos aconchegamos, um ao lado do outro para assistir ao filme. Nossas mãos se entrecruzaram e de leve se mexiam na tentativa de demonstrar estar ali, fiquei por um tempo estasiada com aquele momento. Nunca tinha vivido um momento  como aquele, me senti como em um romance, daqueles escritos par agerações lerem e sentirem. Eu não queria que aquele momento acabasse. Nós nos aconchegamos ainda mais no sofá de modo que deitei a cabeça em seu peito, eu o ouvi batendo, o seu coração estava ali, batendo forte para alimentar o corpo que me abraçava, em vários pequenos instantes achei que estava delirando ou sonhando um sonho bom, eu estava acompanhando a história do filme mas, sentir o seu cheiro, o seu toque e ouvir as batidas do seu coração estavam muito mais interessantes.
        É eu sabia que em algum momento o filme terminaria e eu teria de voltar para casa. Sim, fingi estar dormindo um sono profundo só para sentir o seu toque me acarinhando, eu não queria sair dali, não queria parar de sentir todas aquelas sensações. Mas ele me chamou de um jeito meio desajeitado e com uma vontade escondida de não me acordar. E eu fingi acordar de um sono tranquilo, já sabendo para o que era, fiz drama como uma criança o faz quando não quer ir embora do parque de diversão.
         Para saciar o meu drama ele me beijou, um beijo simples mas cheio de ternura e a partir de então fomos avançando o sinal nas caricias, até que ele me puxou, pegou no colo e carregou-me até sua cama. Sim, fizemos amor. Fizemos amor porque ambos estavam no mesmo ritmo, com o mesmo desejo, não foi uma tranza casual, fizemos amor! Eu não queria que aquilo acabasse porque sabia que teria de ir embora assim que nos recompuséssemos, e foi o que aconteceu.
          Uma noite daquelas para ficar guardada na memória e no coração para todo o sempre. Ele diz que não pode sentir o mesmo que eu, que não consegue. E eu o compreendo, não quero cobrar mais do que noites como aquela. Voltei para casa e quando fomos nos despedir no carro, outra frase curta e um beijo simples, exatamente como estamos sendo. No caminho de volta fiquei pensando se deveria ou não lhe dizer o que pensava e sentia naquele momento, mas com medo de estragar tudo preferi manter a boca calada.
           Não quero que sinta, que demonstre ou fale. Quero que saiba que são momentos como esse que me fazem feliz. Você não precisa sentir, você precisa apenas estar aberto a receber esse sentimento. Se deixar ser amado e cuidado, sem nada em troca.

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